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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

HORÁCIO LOUZADA
( BRASIL – SÃO PAULO )

 

Ribeirão Preto, SP 

Nasceu em 23 de dezembro de 1922.

 


CADERNO DE POESIA - II.  Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954.   90 p.     15,5 X 22,5 cm. 
Ex. bibl. Antonio Miranda. 

 

Teu cabelo

Teu cabelo é lindo e lindo,
Qual marola que serpeia!
É o mar que vem cobrindo,
Lindo rosto de sereia...

Teu cabelo é terno e brando
Qual tardinha a vir do mar...
É mais terno ainda quando
Eu o fito pra amar...

Teu cabelo é mar inquieto
Que nas ondas se assoma,
É meu ser nauta secreto,
Voga e sonha em seu aroma...

Quando solto o bote à vela
Qual pirata aventureiro,
O oceano se encapela
E desvia o meu roteiro.

Como é bom estar perdido
Na marinha cabeleira,
Sendo nauta  foragido,
E a prender-me és a primeira...

Teu cabelo ó dulcinéia,
Tem da tarde a cor estranha
Onde vai a minha ideia
Se banhar em luz castanha!

Se meu canto queres tê-lo
Que mais chora que suspira,
Dá-me um fio de teu cabelo
Que melhor afino a lira!

Como é bom estar pedido 
Na marinha cabeleira,
Sendo nauta foragido
E a prender-me és a primeira...   


Desintegração

Potência esvoaçante e rarefeita,
Invisível nos lúgubres momentos;
Eterna companheira insatisfeita,
Que destróis meu conjunto de elementos.

É eflúvio dos círculos polares
Em favor das matérias imigrantes,
Que gelando as cadeias celulares,
Vem deslocar-me — as forças inflamantes...

Enquanto impero nesta combustão
Lapidando meus rudes sentimentos,
Percebo minha vida ser então
Reação do conjunto de elementos.

Hoje vens, lei oculta, incompreendida,
Agindo em mim, tão simples, implacável;
Desintegrando a força em mim urdida,
Rouba-me o ser à carne transmutável.



Verso

Quando essa força estranha de compor,
No seu assédio corrosivo e langue,
Vem, na saudade, tédio, mágoa ou dor,
Arranca sempre d´alma, — um verso em sangue!...

Não sabe o leigo, em quem a rima trama,
Sempre por dentro a dor lhe vai minando,
E vindo a sílaba em cristal, derrama,
E extrato d´arte de sofrer cantando...

Por isso o homem de sentido pobre,
Que não abarca a doce poesia,
Relega o vale a um plano que descobre
Na sua bronca ideia, crua, e fria...

Um verso sempre quando lê, censura,
Às vezes de maneira ilícita, acre, mas,
Não sabe que do verso a contextura
É fibra viva urdida em sangue e lágrimas...

    
*

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Página publicada em outubro de 2023


 

 

 
 
 
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